Santa ingenuidade! Há tempos venho me sentido vítima, uma pobre e indefesa vítima de pessoas que nem podem mais ser chamadas de pessoas. Se aproveitam o tempo todo de minha vulnerabilidade, descuido talvez. Como alguém que esquece a janela aberta durante a noite, sem muita dificuldade o ladrão avança sorrateiro pelo beiral da mesma e invade o lar da vítima inerte em seu sono cansado pós um dia árduo de trabalho. Mas 'meus' bandidos não levam nada consigo, a não ser parte de minha sanidade. Ao contrário, eles preferem deixar sua marca, aproveitam a imensa parede acinzentada e cravam ali algo que comprove que um dia pousaram os pés no meu chão empoeirado, um quadro, um objeto, alguns preferem apelar ao vandalismo e grifam a parede nua. Deixam ali expostas os seus ideias, suas ideologias, seus conceitos em relação ao mundo, e antes que o sol dê suas caras através da imensidão celeste, já não há mais ninguém. Então eu me levanto e fico a encarar aquela parede, por minutos, horas, dias muitas vezes, e sempre há espaço, eles sempre encontram algum espaço. Oh caros autores, poetas, dramaturgos e pioneiros no gênero, eu vos imploro. Deixes a parede de minha mente intacta ao menos por uma noite!