Caminho em passos estreitos, com a visão desfocada pela garoa fina e gelada, sem qualquer rumo aparente. Vou seguindo em frente sentindo os aromas distintos da cidade suja e aparentemente esquecida. Vago por caminhos desalinhados, a passos tortos, mas firmes, tendo como compania apenas o céu vasto e disforme, indefinível. Já não sinto meus pés, e a ponta de meus dedos estão dormentes graças a baixa temperatura. O vento castiga furiosamente como se meu pecado fosse imperdoável ao ponto de não haver punição a sua altura. Mas eu não me importo, na verdade eu sequer sinto, talvez meu senso masoquista me impeça, ou apenas ja tenha alcançado meu nível maximo de insensibidade. Acendo um cigarro com dificuldade (graças ao meu fardo punitivo), e continuo caminhando, para lugar nenhum, apenas por precisar fazê-lo, apenas pela impossibilidade de parar e observar o mundo girar ao meu redor até se extinguir por completo. Sigo sem ter a certeza se o caminho a percorrer é curto ou extenso, sem a certeza de que chegarei até o fim, ou se o vento satisfará seu impeto, e conseguirá me cortar em pedaços, o que de fato não me importa também. Caminhar não importa. Seguir não importa. Viver não importa.